Roberto João Pereira Freire é advogado e presidente nacional do Partido Popular Socialista (PPS) e atual ministro da Cultura. Nesta entrevista, entre outros tópicos, aponta meios para enfrentar a dura realidade do Brasil ser um país de poucos leitores, enfatiza as ações conjuntas entre os ministérios da Educação e o da Cultura, além de destacar a necessidade pela busca do respeito para com o professor, profissão tão desvalorizada nos dias atuais.
Confira, a seguir, a entrevista do Ministro Roberto freire.
Portal CPP: Os mais recentes dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) 2015 apontam que quase metade (49,2%) dos alunos brasileiros não são capazes de deduzir informações e nem de estabelecer relações entre diferentes partes do texto e não conseguem compreender nuances da linguagem. Como incentivar a leitura no Brasil?
Roberto Freire: Essa é uma das grandes preocupações e prioridades que temos em nossa gestão à frente do Ministério da Cultura. Infelizmente, a leitura não era tratada com a devida atenção pelo governo anterior. Era algo visto como de menor relevância, lamentavelmente. O ministério foi utilizado durante muitos anos mais para que se fizesse um ativismo cultural e até mesmo algo que se confundia com interesses político-partidários. Queremos enfrentar essa dura realidade de sermos um país cujos cidadãos leem pouco. Há uma política de preocupação com o fortalecimento das bibliotecas e seus acervos, assim como a sua maior presença em todo o território nacional. Ao mesmo tempo, vamos incentivar as feiras de livros como forma de impulsionar a leitura, principalmente da juventude brasileira. Também pensamos em conceder prêmios literários para jovens escritores no campo da poesia, da prosa, da dramaturgia etc. Aliás, o ministério organizará um prêmio literário em homenagem ao grande escritor e poeta recém-falecido Ferreira Gullar.
A abertura da escola à cultura, a escolha de uma grade curricular que valorize a pluralidade e a diversidade cultural é um grande desafio. Em que o Ministério da Cultura, em sua gestão, pode contribuir para que traga um impacto efetivo na aprendizagem das crianças e dos adolescentes nas escolas?
Essa é uma atribuição prioritária do Ministério da Educação e das Secretarias de Educação pelo país afora. Entretanto, como a cultura não está dissociada da educação, estamos estreitando as ações conjuntas de ambos os ministérios em torno dessa questão. Mais de 60 mil escolas do ensino médio têm pontos digitais, que hoje já viabilizam o ensino à distância. Compartilharemos, por meio dessas plataformas, todo o acervo que o Ministério da Cultura possui em diversos formatos. Os estudantes terão acesso e condições de compartilhar expressões da cultura brasileira.
A Reforma do Ensino Médio tem criado muita polêmica. Qual a sua opinião?
A reforma é absolutamente bem-vinda e necessária para o Brasil. Infelizmente, perdemos muito tempo nos governos anteriores. Há cerca de 15 anos, já se chegou à conclusão da gravidade da situação do ensino médio brasileiro, e nesse período, lamentavelmente, o quadro só fez piorar. Tivemos uma série de projetos no Executivo e no Congresso Nacional. Agora, parece que esse nó começa a ser desatado. O governo acabou de aprovar a reforma do ensino médio, algo importante e que oferece ao aluno a possibilidade de escolher o que melhor se encaixa ao seu perfil e aos desejos que tem para o seu futuro profissional.
Para ter acesso às boas opções culturais, o professor da rede pública aponta que há muitas limitações. O que o senhor planeja, em sua gestão, para que esse acesso seja ampliado?
Uma das coisas que temos pensado e que deve ser amplamente discutida são as feiras de livros e se nelas podem ser criados espaços para compra de livros com desconto para professores e alunos da rede pública. Estamos discutindo e testando esse modelo para ver se isso pode ajudar de alguma forma. Procuramos saber se isso pode se estender como uma norma para o professorado, pois talvez seja um dos mecanismos mais importantes para ampliar o acesso aos bens culturais. Até mesmo, em alguns casos, um acesso gratuito.
Qual o seu ponto de vista acerca da educação em tempo integral?
Sou totalmente favorável. Lamentavelmente, o Brasil ainda está muito atrasado nessa matéria. Em geral, temos uma carga horária sofrível para os estudantes. Ainda bem que a reforma do ensino médio aponta claramente para esse caminho da educação em tempo integral.
A educação brasileira sempre se viu desafiada frente a qualidade da educação básica e a formação de seus professores. Para o senhor, onde está a raiz dos problemas?
É necessário investir em uma melhor formação para os nossos professores. Ao mesmo tempo, é preciso buscar mais respeito para com o nobre exercício da atividade do professor, em geral tão desvalorizada no Brasil de hoje.
Qual a mensagem que o senhor pode deixar aos educadores associados do CPP, especialmente os que atuam na rede pública ?
A mensagem é de que, apesar de muito termos a conquistar, o que já temos nos faz devedores daqueles que formam nossos jovens e nosso futuro. Ainda precisaremos muito dos professores para alcançarmos a condição de um país que educa, de um país avançado e conectado ao mundo do futuro.