A prevenção é mais inteligente e eficaz do que a tentativa de correção de um problema
Para o professor Mário Sérgio Cortella, "o suicídio é uma solução definitiva para um problema provisório". É preciso dar atenção ao tema, apoiar e orientar a quem precisa. "O suicídio é multifatorial. Ele não tem uma única trilha de prevenção, mas não é por completo inevitável", declara o filósofo.
Falar sobre suicídio ainda é perturbador. Entretanto, evitar o assunto não é uma boa ideia.
Dia 10 deste mês é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas os objetivos da campanha permanecem durante o ano inteiro. A Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organiza nacionalmente, desde 2014, o Setembro Amarelo®.
Segundo o site da campanha, os índices mostram que acontecem mais de 13 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão em todo o mundo. Uma dramática realidade que registra cada vez mais casos, especialmente entre os mais jovens. Veja só: 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, mas em destaque, em primeiro lugar, está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso do uso de substâncias químicas.
Para a Clínica Dr. Carlos von Krakauer Hübner, o suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos de idade. Tanto garotos quanto garotas cometem suicídio, mas mulheres jovens tentam suicidar-se três vezes mais que homens jovens.
No fundo não é a morte que ele procura; o suicida deseja e precisa de cuidado
O comportamento suicida divide-se em 3 fases: pensar em suicídio, tentativa de suicídio e consumação do ato. Quem pensa em tirar a própria vida acredita que não existem soluções para os seus problemas e, normalmente, dá sinais de um desequilíbrio emocional, que pode passar despercebido por familiares e amigos.
Ao contrário do que possa parecer é importante conversar sobre o assunto
Dar condições para que o adolescente fale sobre suicídio não significa que irá estimulá-lo, mas sim uma maneira de fazê-lo enxergar que há formas saudáveis de reagir às pressões do mundo. A ideação suicida tem um componente ambivalente, pois há no indivíduo uma parte dele que busca ajuda, já que, no fundo, não é a morte que ele procura. O suicida tem um desejo de ser cuidado. Frases comuns ditas pelos adultos do tipo “quem quer se matar não fica ameaçando” é uma maneira de negar a situação e a própria responsabilidade em possível ato - aponta o portal G1.
Pela importância do tema e da Campanha Setembro Amarelo, o Centro do Professorado Paulista convidou Roselene Espírito Santo Wagner - psicóloga, neuropsicóloga, membro do comitê científico da Logos University nos Estados Unidos e do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito para esclarecer pontos fundamentais sobre o suicídio.
Portal CPP: como perceber que um estudante adolescente pode estar enfrentando uma crise emocional que pode conduzi-lo ao suicídio?
Roselene Wagner: quem escolhe morrer, como saída para um momento ruim, está afundando numa corrente emocional negativa, submerso em uma angústia avassaladora. Há de fato momentos empobrecidos na vida, onde nem temos o recurso do amor que ampara, da condição financeira favorável, da situação profissional confortável.
É necessário e urgente conscientizar a pessoa em sofrimento psíquico que a vida é sempre maior que esse momento adverso. É um equívoco enorme escolher morrer na tentativa de dar sentido a uma vida que aparentemente está sem significado. A saída correta deste emaranhado psicológico é buscar apoio, desabafo, amparo, combater a depressão, não sucumbir à tentação de anestesiar tantas emoções negativas, com uso de substâncias entorpecentes, e sim buscar por ações positivas na busca de dar valor e sentido à vida. A sua própria vida. Toda vida importa, e a sua deve ser a mais preciosa para você.
Com a pandemia chegaram múltiplos desafios que colocam os profissionais frente à depressão e diferentes alterações emocionais com variada gravidade. Como devem agir para inibir desde o início o avanço desses transtornos psíquicos?
Pessoas acometidas por depressão têm maior risco de suicídio. O risco é maior na vigência da doença e de comorbidades. Estamos imersos num cenário de incertezas. Incertezas essas geradoras de medos e angústias. É importante cuidar do equilíbrio emocional para evitar ações definitivas para problemas transitórios. O suicídio não é solução; e sim mais um problema de saúde pública a ser tratado.
É preciso estar atento aos cinco sintomas básicos e iniciais da depressão:
1. Perda de energia e cansaço constante;
2. Sensação de tristeza profunda
3. Irritabilidade ou lentidão;
4. Dores no corpo;
5. Problemas de sono e alterações de peso.
Se você se percebe assim, ou identificar alguém com esses sintomas iniciais, procure um profissional ou encaminhe a pessoa para uma consulta com um psiquiatra e/ou psicólogo.
A prevenção é mais inteligente e eficaz que a tentativa de correção de um problema ou doença.
O suicídio lentamente está deixando de ser um tabu. A maior parte das pessoas ainda tem pouca informação a respeito do assunto. Mitos e verdades se misturam e as pessoas que de fato precisam de apoio não são socorridas.
Há muito a ser desmistificado. Veja quanto tabu e mentiras andam livres, leves e soltos por aí:
Quem ameaça não faz
Normalmente as pessoas que avisam tentam cometer suicídio sim. Infelizmente.
Se alguém deseja se matar, não há nada que possa ser feito
Apoio e emocional sempre ajuda. Encaminhar para um profissional capacitado ajuda mais ainda. Não são todos os casos, mas a maioria pode ser prevenido.
Quem só fica tentando o suicídio, não vai se matar realmente
Quem já tentou se matar alguma vez pertence ao grupo de maior risco de suicídio.
Uma pessoa que já tentou e não conseguiu está “imune” e não tentará de novo
Uma pessoa que já tentou cometer suicídio uma vez pode tentar várias outras, principalmente se não obtiver ajuda.
Falar sobre suicídio pode encorajá-lo
Ao contrário. Dar oportunidade para alguém desabafar e compartilhar seus maiores medos e sentimentos pode fazer a diferença em favor da vida.
Se uma pessoa já pensou seriamente em se matar, ela será sempre um suicida
Quem deseja tirar a própria vida pode pensar isso por um período limitado de tempo. E é ai que entra o apoio emocional. Ouvir e ajudar sempre poderá evitar que algo aconteça.
Pessoas que se matam não avisam a ninguém
É comum perceber, na maioria dos casos, que a pessoa estava alertando ou pedindo ajuda de alguma forma antes de tentar cometer suicídio.
A melhoria do estado emocional elimina o risco do suicídio
Em boa parte dos casos, os suicídios ocorrem no prazo de até três meses após uma aparente melhora. E o pensamento suicida pode acontecer com qualquer um, estando bem ou mal.
Uma tentativa de suicídio mal sucedida significa que a pessoa não estava realmente determinada a se matar
Uma coisa não tem relação com a outra. A tentativa é o mais importante em ser levado em consideração. Por sorte, naquele caso “mal sucedido” – um alívio para todos – o método utilizado não surtiu o efeito desejado. É uma nova chance de pedir ajuda.
Por esse e outros motivos que é importante discutir sobre o tema. Isso não é brincadeira e muita gente que precisa de ajuda está perdendo sua vida por causa da falta de informação. É necessário conscientizar a todos sobre o suicídio.
Fonte: psocolog
O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Informações: 188